quarta-feira, 14 de março de 2012

Aos Sonhos


Hoje sonhei estar cego. 
O mais estranho de sonhar com a cegueira não é o fato de não enxergar nada, mas sim de sentir absolutamente tudo. 
O que significa esse sonho? Não sei. 
De todo modo, todos sonhamos. Sonhar é que importa. Sonhar e acreditar! 
Não acreditar no sonho, mas acreditar na realidade por trás dele. O sonho é fantasia, mas leva consigo uma parcela vital de nossa realidade. 
O sonho é provocante porque nos incita repensar a vida.
O sonho é sensual e brinca de nos encontrar com o medo, com a paixão, com a reconciliação... e depois ri, debochadamente, da ingenuidade de quem sonhou. 
O sonho é sábio e nos traz lembranças das quais mais queremos esquecer, pois ele sabe: tomamos tanto tempo tentando esquecer que lembramos mais do que esquecemos. 
O sonho é maroto; nos faz pecar sem culpa e culpar os que pecam. 
E depois de cada sonho, trazemos à realidade a fantasia. Com ela, brincamos de refazer o passado, de imaginar o futuro, de ludibriar a razão. 
Somos escravos dos sonhos e da realidade; e a tênue linha que separa esses dois mundos é o maior dos parques de diversão. E para brincar, basta sonhar!

Quanto ao meu sonho, talvez realmente esteja cego pois não enxergo o que mais gostaria de ver. 
Ainda assim, sinto com tanta intensidade que é fácil brincar no mundo dos sonhos...

quinta-feira, 8 de março de 2012

À Gigante Figueira

     O sol arde as poucas nuvens esparsas pelo céu; está quente, tórrido e árido nessa época do ano. Não se tem mais notícias do passante moribundo que sempre lamentava à sombra da Figueira tamanho descaso do sol. Talvez tenha se perdido, as graças do vento que sopra no sul.
      Hoje não! Hoje é só a figueira e o sol. O resto é campo, é grama, secos desda última gota de chuva. E mesmo a Figueira, de raízes profundas, severa consigo mesma, chora suas últimas folhas. Estas estalam antes mesmo de tocar o chão. E o chão se racha antes mesmo da próxima folha cobrir-lhe a face. O vento, a chuva, o verde, todos se foram a exemplo do passante que hoje não veio. O sol não lamenta, tampouco se compadece da gigante Figueira. Arde de cima da copa e em cima da copa sentencia sua última folha que cai suave e serena, beijando, delicadamente, cada galho, sussurrando ao passante ausente toda honra das horas que passaram juntos. Sem tristezas, sem lamentos, sem cobranças. Apenas a simples sorte de terem, juntos, vivido em comum acordo de não questionarem seus devidos propósitos.
     Maldito sol, sofre a gigante Figueira, sofreu o passante.
     E então um som forte estremece o chão rasgado por trás da giganta Figueira. As nuvens emudecem o caudaloso sol, carregando todo céu de uma chuva forte e decidida. Raios queimam o céu sombrio e, apavorada, a pobre Figueira infla seu tronco de angústia e se inunda de vida. Por horas, a água permeia as rachaduras deixadas no chão e, aos poucos, todo cinza é verde, todo medo é paixão.
      Antes mesmo do sol voltar ao fim do dia, chega um passante e senta ao pé da gigante Figueira. Não é mais a mesma, agora tão mais alta, tão mais forte, tão mais verde! Porém, não é mais o mesmo passante. É outro. E, tomados de compaixão, contemplam juntos o sol arder seus últimos raios do dia, sem tristezas, sem lamentos, sem cobranças. Apenas a sorte de viverem juntos seus devidos propósitos.
       Bentito sol, contempla o passante ao pé da gigante Figueira.

Segue assim o fluxo da vida, simplesmente.

À Gigante Figueira

     O sol arde as poucas nuvens esparsas pelo céu; está quente, tórrido e árido nessa época do ano. Não se tem mais notícias do passante moribundo que sempre lamentava à sombra da figueira tamanho descaso do sol. Talvez tenha se perdido, as graças do vento que sopra no sul.
      Hoje não! Hoje é só a figueira e o sol. O resto é campo, é grama, secos desda última gota de chuva. E mesmo a figueira, de raízes profundas, severa consigo mesma, chora suas últimas folhas. Estas estalam antes mesmo de tocar o chão. E o chão se racha antes mesmo da próxima folha cobrir-lhe a face. O vento, a chuva, o verde, todos se foram a exemplo do passante que hoje não veio. O sol não lamenta, tampouco se compadece da gigante figueira. Arde de cima da copa e em cima da copa sentencia sua última folha que cai suave e serena, beijando, delicadamente, cada galho, sussurrando ao passante ausente toda honra das horas que passaram juntos. Sem tristezas, sem lamentos, sem cobranças. Apenas a simples sorte de terem, juntos, vivido em comum acordo de não questionarem seus devidos propósitos.
     Maldito sol, sofre a gigante Figueira, sofreu o passante.
     E então um som forte estremece o chão rasgado por trás da giganta figueira. As nuvens emudecem o caudaloso sol, carregando todo céu de uma chuva forte e decidida. Raios queimam o céu sombrio e, apavorada, a pobre figueira infla seu tronco de angústia. Por horas, a água permeia as rachaduras deixadas no chão e, aos poucos, todo cinza é verde, todo medo é paixão.
      Antes mesmo do sol voltar ao fim do dia, chega um passante e senta ao pé da gigante figueira. Não é mais a mesma, agora tão mais alta, tão mais forte, tão mais verde! Porém, não é mais o mesmo passante. É outro. E, tomados de paixão, contemplam juntos o sol arder seus últimos raios do dia, sem tristezas, sem lamentos, sem cobranças. Apenas a sorte de viverem juntos seus devidos propósitos.
       Bentito sol, contempla o passante ao pé da gigante Figueira.

Segue assim o fluxo da vida, simplesmente.