quinta-feira, 9 de maio de 2013

As pedras sutis da submissão

     A luta feminista no Brasil não é nova. Destaca seus primeiros louros no fim do século XIX com o sufrágio das mulheres, depois segue sua luta pelos direitos trabalhistas e hoje luta ferozmente pela equiparação moral. Em outros países, a libertação feminina ainda é acanhada e calada pelo apedrejamento em praça pública. Prática horrível, não? Pensando bem, a diferença entre o Brasil e alguns lugares do Oriente Médio está apenas no terreno acidentado. Sorte das mulheres daqui que o solo brasileiro seja decorado de belas praias e florestas tropicais. Se lá a pedra dói, aqui é o pensamento que machuca.
     O movimento feminista brasileiro tem uma vitória importante: a liberdade do corpo. Biquínis e saia curta há 50 anos? sem chance! Mas a luta hoje é diferente - e as pedras usadas também. A famosa frase "lugar de mulher é no fogão" ainda é muito viva. Não dentro da academia, cerne do pensamento crítico (ou, pelo menos, deveria ser), mas no borbulho da sociedade. Sociedade essa ainda patriarcal.
     A frase opressiva é muito mais do que uma tradição patriarcal. É a pedra da submissão. A mulher hoje pode ir à praia de biquíni, mas quando voltar para casa, o fogão irá amordaçar sua epifania libertária. Ora essa! onde já se viu mulher que não sabe cozinhar? Não vai casar! Parece arcaico, mas ainda é ensinado pela sociedade. E essa é só uma das pedras usadas para calar. Nem vou entrar na questão sexual. Teria que escrever outras centenas de palavras e ainda assim estaria cometendo o engano de ser superficial em relação a esse ponto.
   
Quantas pedras serão ainda proferidas, quantas bocas serão ainda caladas e amordaçadas pelo pensamento patriarcal? ser feminista não me faz menos homem, pelo contrário, faz de mim um homem mais humano.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Qual sua palavra preferida?

            Um dia, alguém me perguntou qual palavra eu achava mais bonita. Esdrúxulo, eu disse! sim, esdrúxulo. Naquela época eu achava essa palavra simplesmente incrível. Imagine, você mulher, um homem proferindo em alto e bom tom a palavra esdrúxulo. Por certo, uma impetuosa vontade de ser tomada por aquele vociferador de proparoxítonas inundaria seu sistema nervoso central. Agora imagine você, caro Homo Sapiens de polegar opositor, ouvir a doce voz da mais cheirosa e meiga mulher, exclamando, segura de si, a palavra esdrúxulo. Eu sei! O Neanderthal babante adormecido pela evolução também tomaria conta do seu corpo.
           Pois bem! Ultimamente tenho tido fortes encontros com a minha mais nova linda palavra. Interpenetrar. Se a minha antiga palavra brilhava pelo impacto causado por quem a pronunciava, minha nova palavra encanta pela própria palavra. Interpenetrar! Penetrar não! Penetrar é uma palavra vulgar, intrusiva, feia de todo modo. Mas interpenetrar é a melhor das palavras! é consensual, é quase romântica. E é incrível porque ela me lembra todas as outras palavras bonitas que eu conheço. Equilíbrio, igualdade, completude. Interpenetrar é uma palavra completa por si só. Você nem precisa ouvir alguém falar a palavra. Basta imaginar.

            Tenho agora duas palavras incríveis como favoritas.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Quem são eles?


Irmãos? Não! Nem nasceram do mesmo pai, da mesma mãe. Mas sentem a alegria e zombam a chatice do outro.
Melhores amigos? Não! Conhecem-se há tão pouco tempo que amigos ainda não sabem se são. Confiam segredo, assim, pra ficarem mais íntimos e depois confiarem naquele que antes segredou.
Vizinhos? Não! hoje vivem longe, amanhã mais longe ainda, mas encurtam o caminho no primeiro oi do dia. E tão perto vivem que, mesmo longe, a qualquer hora do dia, batem porta do vizinho só pra ver se vai abrir.
Colegas? Não! Nem de classe, nem de quarto. Traçam certos seus próprios caminhos, mas nada impede que se encontrem logo ali.
Inimigos então? Tampouco! Nem se quer já brigaram de verdade. Ensaiam ansiosos o primeiro chispa, mas se demoram a prolongar o deixa disso.
Desconhecidos? Eu bem duvido! Já sabem tanto um do outro que têm a audácia de dizerem nele eu confio.

Quem são eles então? Sortudos! Nem bem se conheceram e já são felizes. Não têm tempo pra duvidar do futuro porque gozam horas demais aproveitando cada segundo.