sexta-feira, 20 de abril de 2012

Não

A festa, as luzes, a bebida, tudo dava um tom eufórico aquele momento. A cada música, dançavam mais próximos. Já podiam sentir o calor do corpo um do outro. E agora, ali pertinho, o mundo era bem pequeno e só cabiam dois. Dançavam uma sintonia marcada pela música.
Ele a trazia pra perto, ela escapava ardilosa.
Dizia com o corpo: não.
Mas seus olhos não podiam mentir e ele acreditava nisso. Já se conheciam há tanto tempo que ela podia mentir sempre que não estivesse olhando pra ele. Seus olhos sempre revelavam a verdade.
Ainda assim, ela dizia: não.
Sempre dissera não, afinal eram amigos. Mas já não pensavam como amigos, tampouco agiam de tal maneira. E se descuidavam ao se tocarem. A mão, o rosto, tudo tinha encontro marcado. A boca...
A boca dizia: não.
Ah que boca, pensava ele. Boca digna de uma ninfa. Vênus, a mais bela das ninfas. Saturno, com a maior das foices, corta seu pai, Céu, bem abaixo da barriga e suas genitálias caem na deusa Mar, nascendo Vênus.
Um sorriso fácil e solto sempre iluminava seu rosto quando ele lhe contava essa história.
Ele se aproximou tanto da boca dela que ainda pode ouvir um sussurro trêmulo e longo
nãão.
Os corpos já não mais dançavam, pouco se mexiam.
Inertes, a meio segundo de distancia, ele olha no olho dela, coloca a mão atrás de sua orelha e rompe o abismo entre o certo e o errado. Ela reluta, afasta a cabeça a altura dos olhos. Ele hesita, vacila:
- vou pegar uma bebida e ir embora.
E, pela primeira vez, a boca se rende aos olhos e ela suplica
nãão.